
Os Homens da Borracha: A História da Extração do Látex de Mangaba em Conquista (MG)
A mangabeira (Hancornia speciosa) é uma árvore frutífera da família das apocináceas — a mesma da peroba-rosa e do guatambu — com ampla distribuição pelo Brasil, ocorrendo principalmente no Cerrado e na Caatinga. Seu fruto amarelado e redondo é muito apreciado tanto in natura quanto no preparo de sorvetes e polpas.
Além disso, a mangabeira é uma planta lactífera, ou seja, produz um látex utilizado para fins medicinais e também na produção de borracha. Povos indígenas já consumiam seus frutos e faziam uso do látex em diversos contextos, como na confecção da bola utilizada no jogo Jikunahati, praticado pelo povo Pareci.
Embora sua produção seja menor quando comparada à da seringueira, o látex da mangabeira foi, por um período, altamente valorizado pela indústria. Essa atividade teve grande importância na formação econômica de Conquista, a partir da década de 1880, no final do século XIX.
O Começo da Extração
No livro Conquista de meus amores – Romanceiro, de Cely Vilhena, há uma descrição poética e vívida do início da extração do látex na região:
“Há homens rudes cortando com facas, no fia, as árvores: são mangabeiras nativas: nos rasgos profundos: procuram aflitos, que sumo? Procuram madeira? Procuram borracha!”
(VILHENA, 1987, p. 36)
A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (IBGE, 1958) confirma o relato de Vilhena e destaca a origem desses trabalhadores, descrevendo-os como “forasteiros provenientes em grande parte da Bahia”, especialmente da região de Vitória da Conquista (CARAMORI, [s.d.], p. 25).
Esses retireiros se estabeleceram na região em busca de trabalho na construção da linha férrea da Companhia Mogyana ou na extração do látex. Sobre a chegada desses trabalhadores, Cely Vilhena também registra:
“Chegam levas todo o dia fustigadas pela seca. São levas de retireiros que vêm à pé da Bahia; do café se faz colheita há trabalho em ferrovia; bem antes colhiam látex de nativas mangabeiras.”
(VILHENA, 1987, p. 36)
⚙️ A Substituição do Extrativismo
Com o passar do tempo, a extração do látex foi sendo substituída por outras atividades econômicas. A mão de obra dos retireiros acabou sendo absorvida por setores como fábricas, construção civil, ferrovias e, principalmente, pela agropecuária.
A cafeicultura tornou-se a principal atividade econômica local, e essa dependência levou Conquista a sentir de forma intensa os efeitos da Crise de 1929, episódio lembrado na memória popular como a “quebradeira” (CARAMORI, [s.d.], p. 13).
Fontes
LOPES, Patrícia. Mangaba. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/frutas/mangaba.htm
. Acesso em: 07 jul. 2023.
PINHEIRO, E. et al. O látex e a borracha da mangabeira. 1ª ed. Embrapa Amazônia Oriental, 2004. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/63595/1/Oriental-...
VILHENA, Cely. Conquista de meus amores – Romanceiro. Belo Horizonte: Editora O Lutador, 1987.
DALBÉRIO, W. História da Cidade de Conquista. Disponível em: https://www.angelfire.com/biz2/castilho/histcidadeconquista.htm
. Acesso em: 07 jul. 2023.
IBGE. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, v. 24, 1958. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv27295_24.pdf
. Acesso em: 07 jul. 2023.
CARAMORI, F. Relicário da Vida (Coisas que vivi). [s.l.: s.n.].
CAMARGO, Vera Toledo de. Jogos indígenas: etnias brasileiras jogavam bola antes da chegada de Charles Miller. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 66, n. 2, p. 54-55, jun. 2014. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67...
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Imagens:
Mangabeira – por Isabela Lustz Portela Lima (Domínio Público).
Antiga Estação Ferroviária de Conquista – Acervo da Câmara Municipal de Conquista.
Texto: Rogério da Silva Mattos – Assistente de Comunicação e Licenciado em História
Arte e publicação: Amanda Bianchini – Diretora de Comunicação da Câmara Municipal de Conquista
Adaptação de publicação original da página A Villa de Conquista-MG (08/07/2023)